dc.description.abstract | Introdução: Embora alucinações auditivas sejam consideradas manifestações psicopatológicas, a alucinação musical vem sendo descrita em indivíduos sem antecedentes de psicose e com sintomas otológicos. Assim como ocorre com o zumbido, acredita-se que a perda auditiva seja o principal fator predisponente para o aparecimento da alucinação musical. Até o momento, a alucinação musical tem-se mostrado refratária aos tratamentos usualmente propostos na literatura. Objetivos: 1. Primário: avaliar o efeito do uso de aparelho de amplificação sonora individual, pelo período de um ano, em pacientes com zumbido e alucinação musical, associados à perda auditiva; 2. Secundários: a. avaliar a coexistência de doenças otológicas, neurológicas e psiquiátricas; b. verificar associação entre a melhora do zumbido e a da alucinação musical com uso de aparelho de amplificação sonora individual. Métodos: pela raridade do fenômeno, realizou-se um ensaio clínico não-randomizado que incluiu os primeiros 14 pacientes com zumbido e alucinação musical matriculados no Grupo de Pesquisa em Zumbido do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, adultos, de ambos os gêneros. Todos foram submetidos à avaliação multidisciplinar pela mesma equipe de otorrinolaringologistas, neurologistas e psiquiatras. Todos pacientes tinham critério audiológico para uso de aparelho de amplificação sonora individual e não haviam melhorado dos sintomas com abordagem medicamentosa. O grupo experimental contou com 9 participantes que receberam orientação sobre seus três sintomas auditivos e adaptaram o aparelho de amplificação sonora individual, enquanto o grupo controle contou com 5 participantes que receberam a mesma orientação sobre os sintomas, mas recusaram-se a submeter-se à adaptação do aparelho de amplificação sonora individual. O zumbido foi avaliado antes e após um ano pelo Tinnitus Handicap Inventory e a alucinação musical, pela escala numérica. Resultados: O grau de perda auditiva mostrou-se adequadamente pareado em ambos os grupos, sendo severo a profundo em cerca de 80% dos casos. A avaliação cognitiva mostrou déficit de atenção leve em 33,3% (grupo experimental) e 20% (grupo controle). Atividade epileptiforme esteve presente em 11,1% (grupo experimental) e 20% (grupo controle). A avaliação psiquiátrica evidenciou episódio depressivo em 66,6% (grupo experimental) e 80% (grupo controle), ansiedade generalizada em 11,1% (grupo experimental) e 0% (grupo controle) e ausência de diagnóstico psiquiátrico em 22% (grupo experimental) e 20% (grupo controle). Após um ano, pacientes de ambos os grupos apresentaram melhora do grau de incômodo do zumbido, porém a melhora no grupo experimental foi significativamente maior do que no grupo controle e somente os indivíduos do grupo experimental apresentaram melhora do incômodo com a alucinação musical. Não houve associação entre a melhora do zumbido e da alucinação musical. Conclusão: A alucinação musical, nesta amostra, apresentou-se expressivamente associada ao sexo feminino, aos idosos e à presença dos transtornos de humor. A avaliação multidisciplinar (otológica, psiquiátrica e neurológica) deve ser oferecida a pacientes que apresentem alucinação musical para refinar o diagnóstico. Após um ano de acompanhamento, a amplificação sonora promovida pelo uso de aparelho de amplificação sonora individual, associada à orientação específica sobre zumbido, alucinação musical e perda auditiva foi mais efetiva no controle do zumbido e da alucinação musical que a orientação isolada | |